sábado, 16 de outubro de 2010

É brincando que se aprende

Hoje deixo aqui um texto que me fez pensar e que gostaria de partilhar com vocês.  :)

Este texto de Rubem Alves, retirado do livro "O desejo de ensinar e a arte de aprender", leva-nos a viajar por outras ideias, leva-nos a reflectir sobre coisas que muitas vezes esquecemos, pois o turbilhão desta vida nos distrai destes pensamentos. Espero que gostem...

"É brincando que se aprende"
O professor Pardal gostava muito do Huguinho, Zezinho e Luizinho, e queria fazê-los felizes. Inventou, então, brinquedos que os fariam felizes sempre, brinquedos que davam certo sempre: uma pipa que voava sempre, um pião que rodava sempre e um taco de basebol que acertava sempre na bola. Os três patinhos ficaram felicíssimos ao receber os presentes e se puseram logo a brincar com seus brinquedos que funcionavam sempre. Mas a alegria durou pouco. Veio logo o enfado. Porque não existe nada mais sem graça que um brinquedo que dá certo sempre. Brinquedo, para ser brinquedo, tem de ser um desafio. Um brinquedo é um objeto que, olhando para mim, me diz: “Veja se você pode comigo!”. O brinquedo me põe à prova. Testa as minhas habilidades. Qual é a graça de armar um quebra-cabeças de 24 peças? Pode ser desafio para uma criança de 3 anos, mas não para mim. Já um quebra-cabeças de 500 peças é um desafio. Eu quero juntar as suas peças! E, para isso, sou capaz de gastar meus olhos, meu tempo, minha inteligência, meu sono...
Qualquer coisa pode ser um brinquedo. Não é preciso que seja comprado em lojas. Na verdade, muitos dos brinquedos que se vendem em lojas não são brinquedos precisamente por não oferecerem desafio algum. Que desafio existe numa boneca que fala quando se aperta a sua barriga? Que desafio existe num carrinho que anda ao se apertar um botão? Como os brinquedos do professor Pardal, eles logo perdem a graça. Mas um cabo de vassoura vira um brinquedo se ele faz um desafio: “Vamos, equilibre-me em sua testa!”. Quando eu era menino, eu e meus amigos fazíamos competições para saber quem era capaz de equilibrar um cabo de vassoura na testa por mais tempo. O mesmo acontece com uma corda no momento em que ela deixa de ser coisa para se amarrar e passa a ser coisa de se pular. Laranjas podem ser brinquedos? Meu pai era um mestre em descascar laranjas sem arrebentar a casca e sem ferir a laranja. Para o meu pai, a laranja e o canivete eram brinquedos. Eu olhava para ele e tinha inveja. Assim, tratei de aprender. E, ainda hoje, quando vou descascar uma laranja, ela vira brinquedo nas minhas mãos ao me desafiar: “Vamos ver se você é capaz de tirar a minha casca sem me ferir e sem deixar que ela arrebente...”.
Há brinquedos que são desafios ao corpo, à sua força, habilidade, paciência... E há brinquedos que são desafios à inteligência. A inteligência gosta de brincar. Brincando ela salta e fica mais inteligente ainda. Brinquedo é tônico para a inteligência. Mas se ela tem de fazer coisas que não são desafios, ela fica preguiçosa e emburrecida".

Perante um mundo tão materialista como aquele em que vivemos, as publicidades, as cores os sons... somos levados por vezes a comprar brinquedos aos nossos pequenos que acabam por ser diversão de poucos minutos. São bonitos, coloridos mas enfadonhos, não dão desafios...

1 comentários:

Especialmente Gaspas disse... [Responder Comentário]

Quando o Piki tinha 10 meses comprei-lhe um livro da chicco que é um cão. Ele adorou tanto o livro que meses mais tarde comprei-lhe o do gato.
Infelizmente e apesar de não ter sofrido quedas o livro do gato começou a fazer mau contacto e agora apenas tem luzes e nada de musica.
Qual achas que ele prefere? hihihi... o do cão que está bom já nem liga. Mas o do gato volta e meia anda de volta dele a tentar pô-lo a funcionar... :) e pq? Pq é um desafio...

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